A Tradição Primordial também é dita "perene" porque sabe se transformar e adaptar, seguindo as próprias diretrizes da vida, sobre balizas universais que asseguram o equilíbrio do Todo, hoje em dia também chamado de “Holístico”. Costuma-se definir este eixo através de Trindades divinas.
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OS LABIRINTOS DA CIÊNCIA E O MINOTAURO DO EGO


A Ciência é aquela forma final de conhecimento que, parcialmente com a Filosofia, se pretende conferir à humanidade na sua época de Humanismo. Seus sábios afirmam que as fórmulas antigas eram elitistas e irracionais, que o povo não tinha acesso ao conhecimento (como se qualquer povo fizesse muita questão disto ou tivesse condições para tal) e nem estava no centro dos mitos e das epopeias, assim como é claro dos sistemas políticos (hoje estará realmente?).

A Ciência é algo popular, dizem, enquanto oferecem energia nuclear e física quântica, cirurgias a laser e diagnóstico por ressonância magnética. No fundo, tudo se destina apenas à indústria e ao consumismo -ao Minotauro enfim, aguardando suas vítimas incautas no coração do labirinto.
A Ciência necessita se desenvolver para curar as enfermidades que ela mesma criou. Por consenso se tem o câncer como uma típica doença-de-civilização (ou “da modernidade”), assim como várias outras doenças e situações que podem chegar a matar ainda mais, como AVC, enfarte, respiratórias e as tantas formas de “acidentes” e a própria criminalidade.

Deixa-se de lado as panacéias da cura natural, para enveredar em artifícios cada vez mais escabrosos –como se a espécie humana tivesse poucas centenas e não milhares de anos de existência! Contudo, ainda hoje as pessoas mais longevas são oriundas de uma vida mais natural, obviamente.
A média de vida humana tem voltado a crescer, sim, em boa parte por se estar voltando mais para as coisas da Natureza. As antigas doenças (tuberculose, malária, diarréias) tem deixado de matar, em compensação outras novas surgiram.
Nos mitos bíblico, quando começou a haver superpopulação e corrupção na Terra, Deus “reduziu” a idade dos humanos para 120 anos (ver Genesis, Cap.6) –o que “reconcilia” os dados bíblicos com a Ciência-, determinando em seguida o Dilúvio e a construção da Arca –um símbolo da cultura-de-massa e da geração de escolas ou redutos de sabedoria.
Em sua última e genial obra “O reino da quantidade e os sinais dos tempos”, René Guenon rende-se às evidências de que estamos vivendo um final de ciclo no mundo, para além de dicotomias como “Ocidente e Oriente” –afinal o chamado “Ocidente” (Europa no caso) nada mais é que um apêndice do “Grande Oriente” do mundo em termos espaço-temporais-, e também de ver apenas uma “crise do mundo moderno”, quando aquilo que existe vem a ser antes o colapso de toda uma civilização patriarcal e militarista.*

A espreita do Minotauro

Quando o ser humano deixou atrás a cultura da autodisciplina e da meditação característica da mentalidade tradicional, apenas poderia deparar-se com a entidade do próprio ego, o si-mesmo infantil e auto-centrado tão caro ao sistema capitalista, posto estar sempre disposto a consumir para preencher o próprio vazio.
O sistema exerce a sua tortura controlada –e basta estar numa cidade grande e ler jornais para obter isto-, para depois oferecer consolo aos desesperados. É a nova forma de estimular a ignorância, do qual o estereótipo do índio acatando espelhinhos resulta apenas metáfora.
A boa-fé dos humanistas na ilustração pós-religiosa, sempre veio abraçada pela cobiça da burguesia em veicular as suas mercadorias: por natureza, os comerciantes são rápidos nos cálculos.


O Minotauro seria uma criação (um filho mítico) do rei Minos. O arquétipo do touro costuma estar relacionado às riquezas, à prosperidade e à civilização -daí o culto ao bezerro de ouro citado na Bíblia. Trata-se daquela faceta da civilização afeita à burguesia, voltada para a cultura-de-massa e à atividade do comércio, assim como à busca regular do usufruto e o carpe diem (“aproveite o momento”) como fim e não meio de vida. O confinamento do gado é exatamente aquilo que se busca aqui, por isto as cidades burguesas não tem limites para crescer feito um câncer.
Quando os hebreus deixaram o Egito e sofreram as agruras do deserto, se rebelaram contra Moisés erguendo o bezerro-de-ouro, enquanto o líder tardava nas montanhas no contato com seu próprio deus. Boa parte do povo sentia falta dos confortos havidos na civilização, onde afinal ele não era exatamente escravo; para lá se dirigira de maneira voluntária e muitos hebreus ocupavam postos importantes na administração. Muitos não conseguiam substituir este pragmatismo pelo sonho de uma nação soberana a ser conquistada para o deus dos hebreus, uma vez que a noção de um deus invisível e absoluto lhes soava estranha.


O Egito fora como um labirinto a seduzir os hebreus com sua fartura e prosperidade. O povo eleito estava esquecido de sua missão até que, como um verdadeiro fio-de-Ariadne, surge Moisés para redespertar a nação de Deus daquela letargia hedonista.
Hoje a Ciência tem superado ou ampliado o seu leque positivista de “percepções”, falta todavia a implantação de uma cultura realmente capaz de assimilar todas as implicações destes paradigmas de novas possibilidades, para além dos aspectos utilitários que porventura estes dados possa habilitar.
Como os próprios cientistas dizem, para cada nova respostas dez novas perguntas surgem. Como diria Clarice Lispector, “de que adiante buscar respostas fiais, se nós sempre teremos a capacidade de perguntar?” Cabe então passar a experimentar mais do que apenas investigar.

* “Ocidente e Oriente” e “Crise do mundo moderno”, são obras do mesmo autor que compõe uma trilogia informal com a derradeira “O reino da quantidade e os sinais dos tempos”. Pese sua genialidade costumeira, zelos “fundamentalistas” o levaram a escrever verdadeiras obras-denúncias sobretudo no campo da espiritualidade, como “O Teosofismo” e “O Erro Espírita”. Enveredou também com brilhantismo no campo da ciência dos ciclos, sem chegar a alcançar no entanto uma compreensão mais cabal das nuances dos mistérios dos calendários mundiais, em parte justamente por causa de sua postura excessivamente hermética ao ecumenismo.

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Luís A. W. Salvi é autor polígrafo e polímata sul-americano cujas obras são divulgadas pelo Editorial Agartha.
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