por Luís A. W.
Salvi, filósofo e escritor
O avanço das ideologias do mundo
moderno (e não apenas neste) correspondem notadamente aos movimentos da
Filosofia Dialética –sujeitos inclusive a certos calendários como são os períodos de 200 anos que pautam os ciclos sociais
de transformação, reunindo cada um deles os esforços de três gerações para: implantar,
consolidar e adaptar uma dada etapa ideológica.
A formulação mais “retumbante” desta dialética pertence ao marxismo
(ainda que tenha as suas raizes em Hegel), onde encontramos a contraposição
entre Capitalismo (“tese”) e Socialismo (“antítese”) sustestando a teoria da luta-de-classes.
Para superar os impasses e os conflitos gerados nesta oposição, e ainda
visando retomar os principios sociais comprometidos pela crise da Socialismo
Histórico, foi criada a microvisão da Terceira Via na política mundial, que não
chega a merecer o nome de “síntese” embora, sim, faça parte disto.
Esta Terceira Via histórica pretende ser uma espécie de “caminho médio” de
atuação sócio-econômica, caracterizada pelo Distributismo
e pela Social-Democracia visando “reconciliar a direita e a esquerda, através de uma política econômica ortodoxa e de uma
política social progressista.” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Terceira_via)
Ambas as concepções remontam ao século XIX. O Distributismo nasceu no seio da
Igreja Católica refletindo as tendências “cristãs”
assistencialistas, numa compensação para a forma “lavada” de viver a religião
no mundo profano -ainda que o franciscanismo pudesse interpor abordagens mais íntegras e atuais para a problemática humana. Ao passo que a Social-Democracia
foi criada por marxistas que entenderam que a via democrática deveria ser usada
como transição para o Socialismo - ainda que a olhos vistos sempre que esta
tese avança muito na prática termina em golpes-de-direita (provavelmente mesmo
após a Guerra Fria, caso alguém busque ressuscitar mais seriamente o Socialismo),
de modo que sua tendência seria permanecer mesmo no pragmatismo assistencial
convertido em instrumento de perpetuação no poder. Podemos por isto tentar dizer que o socialismo-de-mercado (inclusive na
versão chinesa) pode virar o novo ópio-de-povo, caso não haja um aprofundamento
nas coisas.
Já u’a macrovisão mais “justa e perfeita” da síntese teria outros contornos.
O terceiro fator dialético não representa apenas o encontro dos anteriores no
meio de uma linha, e sim uma triangulazição
com os anteriores. Aquele meio-de-caminho representa tirar os excessos dos
opostos, o que já pode ser positivo. Porém, o verdadeiro caminho-do-meio
corresponde a uma superação criativa daqueles meios implantando ou resgatando outros
valores.
Tal coisa se inscreve melhor, pois, no universo da Filosofia Nacionalista,
onde os valores humanos adquirem crescentes cores telúricas valorizando a identidade cultural (naturalmente
passível de refino e de melhorias) e o meio-ambiente nativo como matriz
cultural e base de saúde integral, inclusive espiritual- e é claro, de rica
expressão estética. Ali, naturalmente temos o equilíbrio entre o progresso e a
justiça.
O Nacionalismo contrapõe a dignidade e a integridade dos
costumes tradicionais, à dupla hybris
da antítese dialética que reúne exploração humana e materialismo. A idealização da via nacionalista –em si mesma pragmática e histórica- nunca
foi proeminente na esfera filosófica, porque não raro se misturou com as artes
e as tradições dos povos. Permaneceu ativa de maneira natural como na versão latino-americana
de caudilhismo heróico, emergindo intuitivamente como uma “alternativa” ao
marxismo através do fascismo, teve seus arroubos em expressões fanáticas racistas
como o Nazismo que representou também o seu canto-de-cisne, terminando por ser
a grande vítima “incidental” (sic) da Guerra Fria capitaneada pelo Materialismo
Histórico que reune Capitalismo e Socialismo (Marxismo), quando ainda buscava
emergir sobranceira como no Brasil de Getúlio Vargas e até o seu final
melancólico sob as iniciativas grandiloquentes de Juscelino Kubitschek.
Depois disto tivemos quase apenas as caricaturas nacionalistas dos
Regimes Militares (“Brasil: ame-o ou deixe-o”) que se alastrou pela América Latina
e pelo mundo. Sob as sombras da Guerra Fria, a
juventude contudo se rebelou duplamente contra os seus grandes atores, buscando
intuitivamente caminhos alternativos (inclusive comunitários), e não raro indo
bater às portas das culturas tradicionais em busca do misticismo ou do primitivismo. De forma natural, o Nacionalismo também se aproximou da Social-Democracia, como sob Brizola mantendo ainda a chama
do legado varguista.
Tudo isto se manteve todavia abafado e permaneceu sob as
brasas da Guerra Fria aparentemente extinta em 1990, quando voltou a emergir na
esfera dos países e continentes até então oprimidos. Na América Latina ainda prevalece
este mix de Nacionalismo/Social-Democracia (no
Brasil por ora com maior tendência para o último sob o PT), mas nos países antes
reunidos pela União Soviética temos um esforço pelo resgate dos valores
nacionais mais tradicionais, após uma fase de transição que conheceu o peso da
decadência ocidental.
Assim, um dos aspectos mundialmente relevantes desses movimentos
de renovação política se dá hoje pela revalorização das culturas tradicionais e
pelo multiculturalismo -tal como tem emergido espontânea e até algo “incidentalmente”
no Fórum Social Mundial a partir de 2001-, apontando para um resgate de hábitos
e costumes tradicionais, com destaque para os vínculos do telurismo e da
espiritualidade natural. Tal coisa convive é claro com as habituais manifestações
socialistas, nos seus esforços pela “domesticação” do sistema mais que a sua
negação pura e simples que as vias tradicionais se inclinariam melhor por
buscar, nisto indo ao encontro das tendências “primitivistas” da juventude da
Guerra Fria e após.
Contudo, o final do período de exceção viu o recrudescer
dos já incipientes experimentos comunitários, como se se sentisse um cansaço a este
respeito - mas também, pergunta-se, como se já não fossem necessários por estar
restabelecida a via democrática?
Nisto tudo existe pois uma mistura de valores algo complicada,
porque as inclinações materialistas do socialismo destroem o meio-ambiente e com
ele as culturas autócnes. Seduzidos pelo canto-de-sereia da justiça social, muita gente
que vibra mais próxima da Natureza e da Espiritualidade termina embarcando numa
ideologia pobre como o marxismo feita apenas para remediar ou compensar os males
sociais gritantes do capitalismo, ignorando porém o nobre conjunto de valores
embutidos e até derivados do ambientalismo tradicional.
A grande solução seria, pois, incrementar e radicalizar
o nacionalismo integral pelo retorno à terra de forma mais massiva e valorizar
os costumes nativos. Ao mesmo tempo, caberia olhar para o futuro, não apenas através
da necessária justiça social, mas para os valores espirituais mais avançados
como uma expressão de nação ou de humanidade em evolução.
A ideia é equacionar as raízes telúricas com o avanço
cultural, mais ou menos como fez a Índia clássica refinando antigos valores naturalistas
(pecuários, por exemplo) numa espiritualidade mais naturista, enquanto adotava massivamente
o modelo econômico da organização social em vilas. Esta deve emergir pois como
uma meta paralela e alternativa para as metas socialistas da cultura-de-massa,
a qual deve ser paulatinamente substituída e aperfeiçoada por aquela.
A cultura-de-massa representa uma herança colonialista,
então pode ter parcialmente tratada com remédios criados no Velho Mundo. Porém a
verdadeira cura e saúde resultará isto sim da adoção de um novo modelo
civilizatório onde se harmonize meio-ambiente e civilização através da criação
de redes de cidades sustentáveis de pequeno porte. A esta nova práxis fundada
na síntese nós chamamos de QUARTA VIA, aquela da Matese ou da praxis integral.
Participe do facegrupo FILOSOFIA PERENE
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