O divino monocórdio
Os gregos deram à lira uma
atenção especial, pois suas cordas auxiliam o conhecimento das leis matemáticas
que regem o Universo, o Kosmos, a
“Música das Esferas” enfim.
Atribui-se a Pitágoras a organização da escala musical, através das simetrias do monocórdio, fazendo da música o quarto ramo da matemática. “Influenciada pela cultura oriental, a doutrina pitagórica sustentava que ‘Tudo é número e harmonia’. Assim os pitagóricos acreditavam que todo o conhecimento reduzir-se-ia a relações numéricas, posicionando-as como fundamento da ciência natural.”*
O instrumento da lira foi
atribuído a Orfeu, relacionado a Dionísio e a Baco, a quem foi dito criar o
mundo através dos cinco sólidos platônicos. Os Mistérios Órficos remontam à Grécia
Arcaica, quando a arte possuía uma nobreza hierática.
No céu a constelação de Lira
está no Círculo Polar, regida por Vega, a Águia que simboliza o Adeptado. Suas quatro
ou cinco cordas são simbólicas, como seguem sendo se forem sete. A constelação de
Hércules também se reúne a ela, sendo a direção para onde ruma o Sol. Os Doze
Trabalhos de Hércules são as tarefas do discipulado, além da décima –terceira tarefa
especial de auxiliar Atlas a carregar o mundo.
Em termos simbólicos, a arte da
afinação musical está diretamente relacionada ao trabalho espiritual. Um dos aspectos
mais importantes desta arte é o princípios da ressonância, em parte usado com o
diapasão. Os Antigos viram que a energia humana também é vibração, a qual
ressoa e repercute. Entenderam que a iniciação quase se resume ao processo de
fortalecer, refinar e acelerar a vibração interna do indivíduo, através disciplina,
da ética e da meditação. Por fim, perceberam toda a dificuldade e a sutileza do
quadro, determinando a necessidade de um instrutor para orientar e induzir o aspirante
a “ressoar” corretamente a sua própria nota.
De certa forma, a música nasceu
com esta exata intenção: auxiliar o ser humano a refinar a sua energia. Sabemos
que o som externo repercute em nós. Na Índia se usa um som contínuo na base das
músicas espirituais, relacionado ao OM, buscando imprimir esta harmonia nas
auras dos ouvintes. E se a música ouvida é poderosa, o canto emitido é
incomparável! As orações e os mantras são a musicalização da fala, que visa
trabalhar e harmonizar as freqüências humanas. A consorte do deus criador
Brahma é Saraswati, a deusa da música, e o cisne (Hamsa) é o veículo de Brahma pois simboliza a iniciação solar (ou
terceira iniciação), cuja chave é precisamente o AUM.
A música possui esta dimensão
imensurável, por causa de sua afinidade com nossa essência vibratória ou, vale dizer,
luminística. Possui conexão e se completa com a visão e o próprio sentimento. Costumamos
dizer que os olhos são a janela da Alma (como ela vê), e que o coração é a sua
sede mesma (colo ela sente). A palavra é a forma como a Alma se expressa e
comunica. Nisto temos a chamada Tríade Superior, que é a expressão da Alma ou
do Espírito e a manifestação da Mônada divina. Tudo começa com a educação da
palavra, pois é nisto verdadeiramente que se exprime o caráter.
Em boa parte, a iniciação se resume
à afinação da “lira” da alma. Num certo sentido, os primeiros passos representam
apenas à construção –ou a habilitação- do instrumento interior. É importante começar
cedo, para não acumular desvios, más impressões e compromissos outros –em outras
palavras, para aproveitar a sensibilidade e a receptividade juvenil. Os grandes
músicos são realmente precoces (à esquerda, o jovem Mozart).
“No Princípio era o Verbo”. O
uso da palavra pode ser divinamente criadora. Por sermos essencialmente
vibração, como seres espirituais, é que a emissão do som se torna assim tão
poderosa em nossa evolução. As sucessivas iniciações treinam este dom ou poder.
Da palavra fala na oração, passa-se aos decretos das invocações e conjurações e
aos kirtans devocionais, e finalmente
aos bijans puros de sons-raiz do universo como o OM, essência e síntese de todo
o restante. O OM está para a Oração e a canção, da mesma forma como o Mudra está para os Ásanas e a Dança, ou como o Símbolo está para o Texto e a Forma em
geral.
Com a evolução interna, cabe ao
discípulo tratar de “escutar” a nota do seu ashram
ou do seu mestre, pois esta será também a sua nota. E então tratar de ressonar
nesta freqüência, na meditação, de forma coletiva ou individual. Muita
orientação pode e deve ser nisto conferida, porém o essencial está sempre na
prática inspirado e no treinamento dedicado.
* http://www.somatematica.com.br/mundo/musica3.php
* http://www.somatematica.com.br/mundo/musica3.php
por Luís A. W. Salvi
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excelentes textos e reflexões muito inspirador"
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