As pessoas não deveriam dar-se ao direito de anestesiar-se sistematicamente com nada neste mundo, especialmente com substâncias de qualquer natureza que afetem mais profundamente a consciência. Porque isto é uma irresponsabilidade, sendo inclusive tolice porque é como cair numa armadilha, sacrificando a sua verdadeira liberdade. Não confunda porém estas colocações com algum discurso moralista, radical e preconceituoso. Nós não somos contrários a que as pessoas tenham experiências, porque isto ainda pode ser computado dentro do âmbito medicinal. Pode equivaler a receber uma informação sobre si mesmo e sobre o mundo, sempre e quando a substância seja ministrada corretamente, porque os problemas resultantes também podem ser graves e na verdade nem todo estão preparados ou habilitados para tal, sendo particularmente contra-indicado para quem tem esquizofrenia e qualquer tipo de psicose.
Nós não refutamos que certas substâncias possam trazer uma ampliação de consciência, o que tampouco significa uma prescrição da nossa parte, mesmo porque poucos realmente buscam tal coisa seriamente. Mesmo nos casos mais positivos, agarrar-se a isto de forma sistemática já seria uma forma de vício e de alienação.
Depois de receber a informação a pessoa deve processar esta informação e buscar mudar as coisas para tentar chegar neste estado de ser de forma natural. Isto pode envolver uma dupla mudança, interior e exterior. E é por tudo isto que as substâncias são tão perigosas e até imorais, porque elas trazem uma acomodação existencial. “Depois de criada a sua ilha de satisfação para onde você voará, ó pássaro sem asas?!”
Qualquer dependência externa é como uma auto-castração existencial. As coisas te incomodam? Procure soluções verdadeiras, não se anestesie porque isto é uma forma de suicídio existencial. É perda de tempo pessoal e coletivo, e com o tempo não se negocia. A substância que você conhece é quase perfeita para você? Pois saiba que isto apenas aumenta o perigo e a ilusão. Sempre há alguns que julgam conseguir “fazer a sua parte” mesmo fazendo uso de substâncias. Pois estes também deveriam consultar as suas consciências para saber se não fariam muito mais de outra forma. Nenhuma substância tem o poder de romper realmente com a redoma do ego, somente a própria espiritualidade tem este poder, e mesmo assim somente quando bem conduzida na direção de uma libertação definitiva, já que também nos esforços espirituais podem existir formas mais e menos produtivas.
E neste aspecto não faz quase nenhum sentido as pessoas civilizadas se compararem aos indígenas que fazem uso milenar de enteógenos, porque estas sociedades antigas conquistaram há muito o seu direito por viver de forma harmoniosa com a Natureza, então os problemas encontram-se entre eles pelo menos minimizados. Situação muito diferente vive o homem civilizado, cujo carma e compromisso com a sua cultura é bem diferente. Nós temos inclusive uma triste certeza se que as coisas nunca teriam chegado neste ponto no mundo se as pessoas não adotassem hábitos de criar bolhas que as impeçam de ser mais ativas e inclusive de escutar os alertas e orientações que são dadas.
Este homem branco possui até mesmo acesso a outras formas de medicina ou de espiritualidades ainda superiores existentes no grande rol de informações a que ele tem acesso pelo decurso da evolução espiritual humana. As coisas já são suficientemente difíceis mesmo quando não se usa substâncias, porém quem procura outros recursos espirituais ainda tem chances de se empoderar internamente e nunca deixará de ser um buscador. Cada carma também dá acesso ao seu próprio Dharma, porém não podemos fechar os olhos a ele. A ideia budista da renúncia à felicidade não significa aceitar sofrer e sim buscar respostas verdadeiras para ela na auto-libertação espiritual, convivendo com a dor e com a própria morte como uma sábia conselheira e orientadora.
Nunca se poderá acusar alguém de refugiar-se inteiramente num paraíso artificial se ela também vive numa forma de paraíso natural. Isto significa que o homem civilizado pode encontrar respostas criando para si paraísos naturais? Sim, isto já seria um começo de solução, sobretudo se ele buscar socializar tal coisa de alguma maneira. E neste caso ele também poderia buscar harmonizar substâncias com estas soluções? Neste caso ele deve consultar a sua consciência se realmente já está dando o melhor de si. Se ele não se cegar ou acomodar com a auto-satisfação, é muito provável que alcance novas visões de como fazer mais e melhor e assim crescer mais espiritualmente e como ser humano, permanecendo também sensível às mensagens de outros despertos.
Tentar “harmonizar” as coisas funciona? Há muitos que dizem reunir substâncias e práticas espirituais como religião e Yogas, incluindo a própria vida natural externa e interior. Porém isto tampouco deixa de ser hipocrisia e contradição. Aquele que usa substâncias está negando o valor e a eficácia da sua espiritualidade e está deixando de realizar o verdadeiro esforço necessário. Isto tampouco passaria portanto de uma enganação. Os tímidos resultados do movimento hippie deveria servir para demonstrar este fato.
A abstinência de drogas e substâncias é uma medida que está diretamente ligada ao nosso senso de dever ou à capacidade de perceber as nossas reais capacidades e obrigações. Como dizem os Mestres a nossa alma se revela através do nosso dever. Ter uma alma ou consciência vai muito além da experiência mística porque denota manifestar um verdadeiro coração. Há muitas formas de místicas, e sabe-se que nem todas são realmente positivas e solidárias.
Nós compreendemos perfeitamente contudo o grau de dificuldade que pode existir para a emancipação pessoal das substâncias. É por isto que prescrevemos um treinamento metódico em retiros e comunidades para recondicionar profundamente a nossa própria consciência, porque este é mesmo o grande caminho tradicional para a colocação de bases sólidas para uma consciência autônoma, independente e verdadeira.
Você não faz uso de drogas ou substâncias? Mesmo assim este alerta ainda é com você porque todo mundo conhece pessoas que se tornaram de algum modo dependentes, e isto também afeta o seu mundo porque afinal de contas “ninguém é uma ilha”. É meu dever e responsabilidade fazer estes alertas, mesmo sofrendo o risco da incompreensão, da censura e do preconceito. Eu não me omitirei diante do meu tempo e dos meus compromissos com meus próximos, tal como com as forças espirituais que guiam os caminhos da nossa espécie e que, por mais abnegadas e esforçadas que sejam, não podem e nem devem fazer tudo sozinhas.
* Sobre o Autor:
O prof. Luís A. W. Salvi começou a sua jornada espiritual no xamanismo, avançou para a religião e por fim culminou nos yogas, onde desenvolve amplos trabalhos com as mais avançadas técnicas espirituais como o chamado Surya Vidya ou o Yoga Solar, entre outros saberes avançados de Astrologia planetária, Antropologia esotérica e Sociologia holística. Suas dezenas de obras são publicadas pelo Editorial Agartha. Conheça também o Canal Agarta wTVCanal Agarta wTV.